A Hipocrisia como Norma

Dr. Cláudio Cezar Freitas
1 de jul.
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Atualizado: 2 de jul.

Em um país onde a burocracia é ágil para punir e lenta para socorrer, o cidadão comum se vê preso numa engrenagem que gira ao contrário da justiça. O sistema brasileiro, em sua essência, é um labirinto de boas intenções e práticas contraditórias, onde a hipocrisia tornou-se não apenas tolerada, mas institucionalizada.

Vivemos num país onde discursos inflamados de empatia ecoam nos palanques enquanto nas ruas falta o básico. Onde a solidariedade é usada como cortina para esconder a omissão. Políticos se dizem “servidores do povo”, mas a cada crise revelam sua verdadeira face: a de gestores da própria sobrevivência eleitoral, indiferentes ao sofrimento coletivo.

A recente tragédia das enchentes — ou dos hospitais sucateados, ou da educação esquecida — expõe mais que infraestrutura precária: escancara um abismo moral. Autoridades visitam abrigos, posam para fotos, discursam sobre reconstrução e “resiliência”, enquanto as verbas emergenciais desaparecem na névoa dos gabinetes.

A população, por sua vez, já naturalizou esse roteiro de farsas. Aprende desde cedo a desconfiar das promessas e a se virar sozinha, muitas vezes usando a mesma lógica do sistema para sobreviver — o famoso “jeitinho brasileiro”.

É cruel, mas verdadeiro: o cidadão também adota máscaras. Reclama da corrupção, mas fura a fila, “molha a mão” do fiscal. A hipocrisia, nesse jogo, não é monopólio das autoridades — é um elo invisível que conecta todos numa engrenagem de cinismo e sobrevivência.

O que temos, portanto, é um sistema onde os papéis de vítima e cúmplice se confundem. Onde a ética é celebrada nos discursos e enterrada nas ações. E onde, tragicamente, a verdade perdeu valor diante da conveniência.

Para quebrar esse ciclo, é preciso mais que indignação momentânea. É preciso consciência crítica, educação que forme cidadãos e não apenas mão de obra, e uma renovação profunda da cultura política — de cima para baixo e, principalmente, de baixo para cima.

Até lá, seguiremos assistindo — entre hashtags, promessas vazias e populismo de ocasião — à perpetuação dessa encenação: Brasil, o país onde a hipocrisia é a mais fiel das tradições.

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